Martin e Eduardo

Diz um ditado das regras pop que não se deve usar a palavra amor em letras de música, de tanto que já foi banalizada em rimas. Martin e Eduardo encaixam em 3 minutos e 12 segundos 23 vezes a palavra na música de abertura e de trabalho, “Dezenove Vezes Amor” (não são 19, eu contei). O mesmo livro de ditados das regras pop recomenda que é um caminho bem mais curto para o sucesso encaixar um refrão redondo na canção. O Aerosmith diria que atalho maior ainda é começar a música pelo refrão. Mas cadê o tal salvador em “Lírio”? Ditado diz: músicos devem sempre considerar a auto-sabotagem da diversão durante a execução em benefício do entendimento mais palatável do público. Em “Passa em Volta” tanto Martin quanto Eduardo nos ofendem explicitamente com diversão escancarada enquanto tocam. Mais ditado? Pois bem, a crocância da obra está diretamente ligada à capacidade de montagem do quebra-cabeças da sequência de faixas do disco. Mas que raios faz esse power pop perdido como quarta música, “Só”? Quinta regra pop: priorize a melodia, priorize a melodia, priorize a melodia, priorize a melodia, priorize a melodia. Cartão vermelho, pois, para “Daqui pra Frente” e sua ruas atravessadas e cruzamentos de melodia com efeitos e viagens sonoras. Diz o sexto ditado pop que disco é conceito. Ou por outra: é para ser ouvido como se lê um livro – se você começou como um drama, siga até o final; Romance? Pois faça chorar, seja em explosão emocional ou balada lacrimosa. Capiche? Essa coisa que fica entre vauldeville, pop, country alternativo da “Muitas” nem pensar. E tome regra: agora são os anos 1980. Entendido? Se quiser fazer algo como uma guitarra pesadona e grungeada como na “Seu Bem”, espere alguns anos. E mais: se trabalho paralelo fosse bom não seria paralelo, e essa música poderia muito bem estar no outro plano de vocês, que atende pelo nome Pitty. Vamos ao oitavo ditado pop: a canção tem que estimular seu melhor lado air guitar. No máximo máximo um air drums, ou fazer você usar o chuveirinho como microfone no banho. Fazer você ter vontade de ser o baixista como o é em “Strange Days” está fora de cogitação. E uma nona regra de bônus – música pop tem que ter 3 minutos. Ponto. Passou de 3m59s, machado na mesa de som. Quatro minutos e meio como “Me Perdi” só se você tiver composto uma nova “Stairway to Heaven”. Agora analisemos o texto. Regra para releases de conhecimento empírico dos jornalistas de tanto recebê-los quais escritos em série aponta que texto bom para o disco fica entre uma legenda para surdos faixa a faixa e um negativo de caricatura do trabalho abordado, ressaltando e exaltando as qualidades. Bom, se você crê nisso pode rasgar este ou mudar de site. Pois não há explicação melhor para Martin e Eduardo, o disco, se não por todos os erros que cometem. Afinal, produto pop bom é aquele em que sua explicação cabe em uma frase. Elogiosa. O que não é, definitivamente, o caso. Ainda bem. Luiz Pimentel. Read more on Last.fm. User-contributed text is available under the Creative Commons By-SA License; additional terms may apply.